domingo, 9 de março de 2014

A Ucrânia e a religião

Homenagem aos heróis de Maidan (Foto retirada daqui)
A crise política na Ucrânia tem merecido destaque noticioso e provocado as mais diversas análises e comentários. Trata-se de uma realidade política, social e económica multifacetada e, também, religiosamente complexa.

Em termos religiosos, a maioria dos ucranianos (cerca de 80%), declaram-se ortodoxos. Mas estão filiados em três patriarcados distintos. Cerca de metade vive a sua fé em união como o Patriarca de Kiev; um quarto está unida ao Patriarca Russo de Moscovo; e a restante forma o Patriarcado Ucraniano Autocéfalo.

Logo a seguir aos ortodoxos aparecem os católicos, que representam dez por cento da população. Destes, a maioria (8%) são greco-católicos do rito oriental; e os outros seguem o rito latino. Pertencem todos à Igreja Católica e estão unidos ao Papa, mas os primeiros mantêm uma espiritualidade e uma forma de celebrar mais próxima da Igreja Ortodoxa. Disciplinarmente também existem pequenas diferenças: no rito oriental, por exemplo, existem padres casados.

Para além de católicos e ortodoxos, cerca de dois por cento da população é protestante e menos de um por cento professa a fé judaica.

Neste contexto, não é fácil o diálogo ecuménico entre os diferentes credos cristãos. Durante a crise ucraniana, contudo, este mosaico religioso uniu-se na defesa da paz. Procurou, por um lado, influenciar os líderes políticos para que encontrassem formas de evitar o deflagrar da violência. E, por outro lado, todas as igrejas e tradições religiosas, estiveram presentes e acompanharam os manifestantes na Praça da Liberdade de Kiev. Os greco-católicos, pela sua presença e apoio aos manifestantes, foram mesmo ameaçados pelo poder, entretanto destituído, de virem a ser ilegalizados. Para Sviatoslav Shevchuk, arcebispo greco-católico, a Igreja, embora não participando “no processo político, não se pode retirar quando os seus fiéis lhe pedem ajuda espiritual. Estar com os fiéis é um dever do sacerdote”.

Nesta como noutras crises e problemáticas políticas, as igrejas, não se devendo imiscuir na política partidária, têm de defender de forma intransigente os direitos humanos. Esse é, aliás, o seu primeiro contributo para a promoção da paz social e da liberdade. 

(Texto publicado no Correio da Manhã de 07/03/2014)

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