domingo, 6 de abril de 2014

As igrejas pós-concílio

Igreja de N. Sra. dos Navegantes
Foto retirada do sítio da Paróquia do Parque das Nações 
Os cristãos não têm templos, locais aos quais Deus esteja confinado: Ele está em toda a parte. Nos inícios do cristianismo os fiéis reuniam-se ao Domingo, o dia em que Jesus ressuscitou. Habitualmente à noite, porque era um dia de trabalho normal, e à volta da mesa, porque de uma refeição se tratava e na qual se recordava a Última Ceia de Jesus com os Apóstolos.

Estes espaços privados começaram a ser designados como “Domus Ecclesiae” expressão latina que significa casa da assembleia. Da palavra “Ecclesia” derivará a nossa palavra igreja, que passou a designar a casa onde se reúnem os cristãos. O continente acabou por receber o nome do conteúdo.

Ao longo dos séculos, numa lenta evolução, a mesa da refeição acabou encostada à parede, com todos os fiéis – mesmo o sacerdote que celebrava de costas para o povo – voltados para o altar-mor, onde pontificava o sacrário, o local onde se guarda o Corpo de Cristo, o Santíssimo Sacramento. Havia, assim, um ponto de referência, em função do qual se organizava todo o espaço, e orientava a conceção arquitetónica que se foi consolidando ao longo dos tempos.

O Concílio Vaticano II veio complicar tudo, ao pretender recuperar o ambiente de refeição para a celebração. A liturgia passou a organizar-se, não em função do Santíssimo, mas em função da mesa da refeição, o altar, que voltou a ser desencostado da parede.

Nestes 50 anos de pós-concílio, não tem sido fácil adaptar igrejas construídos em conformidade com outro ideário celebrativo, às novas exigências litúrgicas. E mesmo as construídas de raiz têm, muitas vezes, dificuldade em traduzir as ideias pós-conciliares.

Contudo, há bons exemplos espalhados pelo mundo e no nosso país foi inaugurada, esta semana, mais uma igreja que traduz bem a renovação litúrgica introduzida pelo Concílio Vaticano II. Trata-se da Igreja de Nossa Senhora dos Navegantes, inaugurada no Parque das Nações, em Lisboa. É um edifício “de uma beleza não espalhafatosa mas essencial”, como a classificou D. Manuel Clemente, segundo o semanário “A Voz da Verdade”, em que facilmente se pode ler o Concílio e – em sintonia com o ambiente marítimo que o envolve – o complexo urbanístico resultante da Expo 98.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 04/04/2014)

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