domingo, 4 de maio de 2014

Papas ausentes

Papas desde João XXIII até ao atual
Arranjo gráfico de Lorenzo Rumori retirado daqui
Cerca de um milhão de pessoas acorreram à Praça de S. Pedro para participar na canonização de dois novos santos: João XXIII e João Paulo II. Dado que a memória do papa polaco está mais viva na mente e no coração dos fiéis, não é de estranhar que a maioria dos presentes sejam seus devotos. João XXIII foi um papa muito popular, no seu tempo, e querido pelos fiéis, que rapidamente o começaram a apelidar de "Papa Bom", apesar de então não haver os meios de difusão das notícias, que, hoje, possibilitam o acompanhamento próximo do dia-a-dia do Papa.

João XXIII iniciou o caminho de humanização do papado que se intensificou com os seus sucessores – em particular com João Paulo II que, após anos de exposição mediática nas inúmeras viagens que realizou, não quis esconder a doença e a decrepitude do Papa. Também Bento XVI deu um assinalável contributo ao reclamar para o bispo e de Roma o direito a "reformar-se".

Numa mesma celebração reuniram-se quatro dos Papas que resgataram a Igreja do encerramento nos muros vaticanos para o diálogo com o mundo e a contemporaneidade. Faltaram somente o Papa Paulo VI e João Paulo I, a quem ainda não foi reconhecida oficialmente a santidade mas que, também, contribuíram para essa caminhada.

Paulo VI foi o timoneiro que assumiu o leme do Concílio Vaticano II, convocado pelo seu antecessor, e o soube levar a bom porto. Ficou, assim, ligado à maior reforma da Igreja desde o concílio de Trento, quinhentos anos antes.

João Paulo I, para além de ter homenageado os seus dois antecessores no nome escolhido, no seu curtíssimo pontificado deixou antever uma personalidade muito semelhante à do atual Papa. Era um bom comunicador. Criou uma relação empática com as pessoas, que o cognominaram de "Papa do Sorriso". Tal como Francisco, nas audiências gerais interagia com os assistentes, "entrevistava" crianças e jovens.

São dois papas a que a história ainda não fez justiça. Muitos acreditam que também eles trilharam o caminho da Santidade e desejam que rapidamente sejam reconhecidos como pertencentes a essa galeria de homens e de mulheres que, nas mais diversas circunstâncias, viveram a sua fidelidade a Jesus Cristo e aos valores do  Evangelho.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 02/05/2014)

Sem comentários:

Enviar um comentário