domingo, 7 de setembro de 2014

Revisão do celibato

Foto: L’Osservatore Romano
Mães biológicas e espirituais de sacerdotes escreveram ao Papa para pedir que “proteja o celibato”. O documento é assinado por 332 mulheres que, desta forma, respondem a uma outra missiva, a qual em maio teve ampla divulgação mediática, de 26 mulheres que pediram a revisão dessa disciplina eclesiástica.

Há quem pense que deixando casar os padres aumentariam as vocações ao sacerdócio e que se resolveriam muitos dos problemas associados a esta prática eclesiástica. Esta é uma forma simplista e errónea de pôr a questão: não será a partir dessas teses que a Igreja concluirá pela mudança dessa práxis.

De facto, as Igrejas que têm o celibato como opcional, como é o caso das comunidades evangélicas, ou anglicanas, ou mesmo as católicas de rito oriental, têm também falta de vocações sacerdotais. Se alguns problemas se resolveriam, outros se levantariam. Talvez por isso, os bispos de rito oriental – que sempre teve padres casados – são os que olham com maior apreensão para a revisão da obrigatoriedade do celibato para os sacerdotes. Por exemplo: uma infidelidade de um clérigo afetaria, não só as promessas sacerdotais, mas também os compromissos assumidos com a sua esposa e a estabilidade da vida conjugal.

Também não se evitariam os escândalos de pedofilia, como erroneamente alguns pensam, uma vez que essas práticas são distúrbios que nada têm a ver com o facto de as pessoas serem ou não casadas.

Não é por aí que deve passar a discussão de mudar, ou não, dessa disciplina da Igreja. O que se pode vir a equacionar é a possibilidade de, em determinadas realidades, virem a ser ordenados homens casados que já têm uma vida familiar estável e desempenham um papel de liderança da comunidade. Em muitos contextos, como os de missão, são eles que orientam a celebração dominical na ausência do presbítero, que mantêm viva a fé dos crentes e a alimentam. Por que razão não podem eles ser ordenados e garantirem a celebração da eucaristia, a confissão e a unção dos enfermos a essas pessoas?

O cerne da questão não deve ser tanto o abandono do celibato, mas a revitalização das comunidades eclesiais, de forma a que elas próprias gerem os seus pastores. E estes poderão ser celibatários ou não.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 05/09/2014)

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