sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Ser bispo é…

Foto retirada daqui
Subir na carreira é uma aspiração legítima e louvável em qualquer percurso profissional, mas não no eclesiástico. A única ambição admitida a um clérigo é a de servir. Porque ele não é um profissional do sagrado, que vai ascendendo na hierarquia, subindo degrau a degrau até ao episcopado, mas é escolhido para desempenhar funções diversas na Igreja, sempre tendo como horizonte o serviço à comunidade e não a promoção pessoal.

Por diversas vezes o Papa tem criticado aqueles que aspiram a subir na carreira eclesiástica, cumprindo um plano que tudo submete a essa pretensão, muitas vezes travestida de serviço à Igreja, a qual, contudo, não passa de uma estratégia para atingir esse objetivo pessoal.

Na audiência desta semana censurou os sacerdotes que embarcam nessa “mentalidade mundana” e que veem no episcopado uma promoção. Para o Papa ser bispo “é um serviço e não uma honra para se vangloriar”. Esse é o testemunho de tantos santos que demonstraram que “esse ministério não se procura, não se pede, não se compra, mas se acolhe em obediência, não para se elevar, mas para se baixar, como Jesus”, disse. Por isso “é triste quando se vê um homem que procura este ofício e que faz muitas coisas para lá chegar, e, quando lá chega, não serve, pavoneia-se, vive somente para a sua vaidade”.

Para além do desagrado, Francisco, no fundo, reconhece também que tal como acontece no mundo – por exemplo na política – por vezes os eleitos não são os mais aptos para desempenhar um cargo, mas os que mais fazem por isso, por vezes sem olhar a meios para atingir os seus fins. Cujo objetivo não é, seguramente, servir, mas servir-se. Não é governar, mas governar-se.

A constatação está feita. A enfermidade está identificada. Agora aguarda-se a implementação de uma terapia adequada para a combater e um investimento na sua prevenção. O Papa já interveio de forma determinada na correção dos desmandos de alguns bispos, não se coibindo mesmo de os suspender, dada a gravidade de alguns casos. Espera-se que em relação aos “trepadores”, como já os apelidou, para além dessa firmeza nos casos mais graves, consiga igualmente encontrar formas de dificultar o seu acesso ao episcopado.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 07/11/2014)

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