sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Deus existe?

Imagem retirada daqui
“Deus ainda tem futuro?” é o título de um livro recentemente publicado que reúne os contributos de diversos especialistas que participaram na edição do ano passado dos colóquios “Igreja em diálogo”, onde foi refletida a questão da existência de Deus.

Esta semana um programa de televisão retomou a questão num debate em que participaram crentes e não crentes. A maior virtude deste tipo de iniciativas é confirmar a única certeza que se pode ter acerca de Deus: tanto a sua existência como a sua negação não se podem provar racionalmente.

Tanto crentes como não crentes, se forem intelectualmente honestos, sabem que a via científica – ou o método experimental, se quiserem – é inútil para essa questão. Ambos experimentam as mesmas dúvidas acerca do divino. Em todo o ateu habita um crente, que por vezes leva a melhor e então acontece a conversão; e todo o crente é assaltado por dúvidas que o podem levar ao abandono da fé.

Tanto uns como outros, porém, acreditam em muitas outras coisas que não podem comprovar cientificamente, como são muitas das realidades intrinsecamente humanas. Uns e outros não conseguem dar uma definição racional do amor, mas porventura não duvidam que são amados. Fundam essas certezas em tantos gestos e palavras que confirmam a sua crença no amor, mas continuam a não ter a certeza absoluta da sua fé.

Para nós cristãos a definição mais completa da divindade está expressa nas palavras de S. João: “Deus é amor” (1 Jo. 4, 8). Uma definição que brota da experiência de amar e ser amado. A beleza do cristianismo é a de um Deus que dá o primeiro passo ao encontro da humanidade, sem esperar nada em troca, respeitando até a sua descrença.

Ninguém tem a certeza absoluta da sua existência, mas os cristãos leem a história do mundo e a sua história pessoal à procura desses sinais da presença de Deus ou da sua ausência. Descobrem que o podem fazer presente pelos seus gestos de gratuidade, ainda que os que não creem os reduzam a mera filantropia.

Não sabem se Deus tem futuro. Mas acreditam num futuro melhor quando tem Deus como horizonte. Deus que os desafia a empenharem-se na transformação e na humanização de um presente em ordem a um melhor futuro. Assim encontram razões para acreditar e dão testemunho da sua fé.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 12/12/2014)

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