sexta-feira, 17 de abril de 2015

Papa em contracorrente

Genocídio do povo arménio entre 1915 e 1917
Foto retirada daqui
O Papa não receia expressar as suas ideias mesmo quando elas não são “politicamente corretas” ou vão ao arrepio das tendências da cultura contemporânea.

Papa interroga-se sobre "teoria de género"
Foto retirada 
daqui
No final da semana passada agitou o mundo diplomático ao condenar o “genocídio” do povo arménio pelo império turco otomano. Nunca um Papa tinha verbalizado dessa forma a matança dos arménios no início do século passado, apesar de João Paulo II ter assinado com o Patriarca Arménio, em 2001, um documento conjunto em que o condenava e referia explicitamente.

As palavras de Francisco irritaram o presidente da Turquia que as comentou em termos pouco simpáticos. “Quando os políticos e os religiosos assumem o trabalho de historiadores, não dizem verdades, mas estupidezes”, disse Erdogan. Curiosamente, foi o mesmo Erdogan que, no final do ano passado, num encontro de líderes muçulmanos na Turquia, defendeu que a América foi descoberta por marinheiros islâmicos, baseando-se numa alegada referência de Cristóvão Colombo à existência de uma mesquita em Cuba. Na verdade, é Bartolomeu de las Casas que narra o que o navegador vê ao chegar a terras cubanas, descrevendo o cume de uma montanha como “uma elegante mesquita”, como recordou Diego Contreras no blog “LaIglesia en la prensa”.

O Papa atreveu-se também, na última audiência, a questionar se a “teoria de género” não será “um passo atrás”? E fê-lo em clara contradição com os que vêm nela uma solução para a redutora distinção entre masculino e feminino, bem como para a submissão da mulher ao homem. Estes defendem que as diferenças não provêm das característica biológicas, mas das construções culturais. E, por isso, não faz sentido falar-se de homem e de mulher, de masculino ou feminino.

Para Bergoglio, porém, a solução das desigualdades entre homem e mulher não passa pela negação das diferenças, mas pela defesa da sua complementaridade, da sua mesma dignidade, até porque ambos são “imagem e semelhança de Deus”. E propôs a promoção da mulher e o reconhecimento da sua importância na sociedade e na Igreja.

Nestas como noutras questões, é de louvar que Francisco não se submeta à lógica do “politicamente correto”. Precisamos dele como uma consciência crítica de um mundo que se submete com facilidade às modas intelectuais e culturais.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 17/04/2015)

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