sábado, 20 de junho de 2015

A encíclica verde

Foto retirada daqui
Na Encíclica “Laudato si” o Papa Francisco junta a sua voz à da terra que “clama contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos bens que Deus nela colocou” (nº2).

O texto ontem apresentado no Vaticano dá continuidade ao discurso ecológico introduzido por Paulo VI no magistério social da Igreja. Em 1971, na carta apostólica “Octogesima adveniens” para comemorar a publicação da “Rerum novarum” de Leão XIII, “referiu-se à problemática ecológica, apresentando-a como uma crise que é ‘consequência dramática’ da atividade descontrolada do ser humano”, recorda o Papa Francisco noº4 da sua última Encíclica. João Paulo II propôs a fundamentação bíblica e teológica destas questões. Bento XVI assumiu e aprofundou o pensamento do seu antecessor, chegando mesmo a ser apelidado como “o primeiro papa verde” pela revista National Geographic, de 28 de fevereiro de 2013.

Francisco é o primeiro Papa a dedicar um texto com a relevância de uma Encíclica à problemática do ambiente.

A preocupação que ele procura suscitar é traduzida pela questão: “Que tipo de mundo queremos deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?” Com uma linguagem frontal, que não se submete à lógica do politicamente correto, critica os governos e as grandes empresas que contribuem para a degradação ambiental e o acentuar da pobreza. Denuncia o consumismo e a divinização do mercado.

“Convém evitar uma conceção mágica do mercado, que tende a pensar que os problemas se resolvem apenas com o crescimento dos lucros das empresas ou dos indivíduos” (nº 190). Mas também censura aqueles que se preocupam mais com o desaparecimento de algumas espécies do que com os atentados contra a vida humana, como o aborto, ou o desaparecimento de uma cultura. Por isso, propõe uma ecologia integral que não seja só ambiental, mas que inclua também as dimensões humanas e sociais.

Para salvar, não só o planeta, mas também a humanidade e a sociedade, convoca todos e acredita que “nem tudo está perdido, porque os seres humanos, capazes de tocar o fundo da degradação, podem também superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto” (nº 205).

(Texto publicado no Correio da Manhã de 19/06/2015)

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