sexta-feira, 6 de novembro de 2015

O pároco de Rio de Onor

Mons. Lucio Angel Vallejo Balda
Foto retirada daqui
Um monsenhor está detido no Vaticano, acusado de ter divulgado documentos confidenciais da Santa Sé. É Dom Angel, como era conhecido na pequena aldeia fronteiriça de Rihonor de Castilla onde foi pároco nos seus três primeiros anos de sacerdócio.

Aquela aldeia espanhola é contígua à portuguesa Rio de Onor, no distrito de Bragança. Nos finais dos anos oitenta os cristãos daquelas duas aldeias, que a fronteira nunca separou, iam um domingo à missa ao lado espanhol e, no domingo seguinte, à igreja portuguesa. Por isso, Dom Angel também foi, embora só quinzenalmente, pároco de Rio de Onor. Nessa época em que foi pároco naquela zona raiana chegou mesmo a ser diretor espiritual do seminário de Bragança. Por pouco tempo, é certo, porque o bispo de Astorga logo o colocou na administração dos bens da diocese. Tornou-se então o mais jovem sacerdote a desempenhar tais funções em Espanha.

Devido ao bom trabalho desenvolvido na sua diocese e à colaboração na organização da Jornada Mundial da Juventude de 2011, presidida em Madrid por Bento XVI, acabou por nesse mesmo ano ir para Roma para ser Secretário da Prefeitura para Assuntos Económicos. O Papa Francisco escolheu-o para integrar a Cosea, a comissão que orienta a organização das estruturas económico-administrativas da Santa Sé. Foi aí que teve acesso a documentos confidenciais e que terá gravado conversas que agora são reportadas em dois livros apresentados ontem em Roma, o que levou o Papa a ordenar a sua prisão.

É possível que Angel Balda esteja convencido de ter feito o melhor para a Igreja, se de facto passou informações confidenciais aos jornalistas. Há, por vezes, a tentação de divulgar os vícios e a podridão que grassa no interior das instituições para, com a ajuda da exposição mediática, obrigar os seus responsáveis a corrigi-los.

Só que esse não é, por regra, o procedimento correto. Neste caso nem se pode alegar uma eventual passividade de quem dirige, uma vez que o Papa criou a Cosea precisamente para atacar a corrupção e os desperdícios no interior do Vaticano que o monsenhor Angel terá passado à imprensa. Estas fugas de informação, afirmou a Santa Sé, “não ajudam de modo algum a estabelecer clareza e verdade, mas apenas geram confusão e interpretações parciais e tendenciosas”.

(Texto publicado no Correio da Manhã de 06/11/2015)

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